A cirurgia plástica reconstrutiva tem, sem dúvida, um papel estabelecido na reabilitação após a mastectomia total ou parcial com recurso a numerosas técnicas. A sua intervenção faz parte do plano de recuperação física e psicológica da doente, em que a imagem corporal e a autoestima assumem um papel muito relevante. A reconstrução mamária trata de um campo muito vasto, pelo que a presente informação visa tão-só a apresentação de alguns conceitos gerais de forma acessível e procura fornecer algumas respostas às perguntas que mais frequentemente inquietam as doentes que vão submeter-se a um processo destes.
Neste processo, além da intervenção na zona da mastectomia, a mama contralateral é também alvo de remodelação cirúrgica em muitas das situações, tendo em vista a obtenção de simetria mamária. Assim, a mama contralateral (sem cancro) pode ser submetida a técnicas de redução ou aumento de volume ou de remodelação da forma mamária. As técnicas são, assim, praticadas na maioria dos casos, fora do contexto da doença mamária, quer seja com intuitos funcionais (por exemplo excesso de peso mamário) ou estéticos.
O objetivo da reconstrução mamária tem em vista o restabelecimento da forma mamária após mastectomia ou excisões parciais, restabelecendo uma forma e simetria tão naturais quanto possível. Não visa, após a mastectomia total, o restabelecimento da capacidade de amamentação, uma vez que já não existe glândula mamária. Esta área da Cirurgia Plástica e Reconstrutiva tem-se tornado, nas últimas décadas, um aspeto cada vez mais preponderante e rotineiro no tratamento das mulheres com cancro da mama.
Os procedimentos cirúrgicos de reconstrução mamária têm por objetivo restaurar o formato natural de uma ou ambas as mamas, assim como a sua aparência e simetria, após mastectomia ou tumorectomia (remoção de apenas uma parte da mama). Outro grupo de pacientes que necessitam de cirurgia reconstrutiva são as que apresentam determinadas alterações genéticas que conferem uma alta probabilidade de desenvolver cancro da mama no futuro.
Praticamente todas as mulheres mastectomizadas ou submetidas a tumorectomia são potenciais candidatas a este tipo de intervenção e, na maior parte dos centros hospitalares, existe uma equipa multidisciplinar que se encarrega de delinear o plano cirúrgico mais indicado, na sua vertente oncológica e reconstrutiva, para cada doente.
Quando fazer?
A cirurgia de reconstrução mamária pode ser feita logo após a mastectomia ou tumorectomia (reconstrução imediata) ou num segundo tempo cirúrgico (diferida). Esta decisão depende, na maioria dos casos, da preferência individual da doente.
Métodos Reconstrutivos
Globalmente existem 2 tipos de reconstrução possível:
1. Reconstrução autóloga (apenas com os tecidos da própria paciente)
2. Reconstrução heteróloga ou mista (em que se utiliza material sintético – próteses mamárias)
Quanto às técnicas, podem ser usadas as seguintes, individualmente ou em combinação:
- Retalho livre, em que o tecido usado para a reconstrução da mama é independente da vascularização da zona dadora:
- Da região abdominal – msTRAM, DIEP
- Da coxa – Gracilis
- Da nádega – SGAP, IGAP
- Retalho pediculado, em que o tecido usado para a reconstrução da mama é dependente da vascularização da zona dadora, normalmente por um pedículo muscular:
- Da região dorsal – retalho grande dorsal
- Da região abdominal – TRAM
- Implante mamário (prótese, expansor tecidual)
- Enxerto de gordura
Qualquer uma das técnicas acima citadas têm vantagens e desvantagens associadas, não sendo possível afirmar peremptoriamente que uma opção é superior à outra. É de extrema importância discutir com o doente as várias etapas que integram cada procedimento assim como os respetivos resultados esperados, no sentido de estabelecer o método reconstrutivo que melhor corresponde às expectativas e necessidades da doente.
Aspetos como a compleição física, tipo de mastectomia efetuada, tratamentos oncológicos, tabagismo ativo e cirurgias abdominais anteriores podem influenciar a escolha por um determinado método reconstrutivo em detrimento de outro.
Reconstrução do complexo aréolo mamilar (CAM)
Depois da cirurgia reconstrutiva inicial e de cirurgias de revisão, a doente será submetida, mais tarde, a uma nova intervenção para reconstruir a aréola e mamilo. De forma resumida, a reconstrução é feita do seguinte modo:
Aréola:
- Com enxerto de pele – é retirada uma pequena porção de pele da virilha, sendo esta moldada e enxertada na região areolar da mama reconstruída
- Com tatuagem
Mamilo:
Existem diversos retalhos a que se pode recorrer para formar o neo-mamilo, sendo as opções mais frequentes a hemi-secção do mamilo contralateral com enxerto subsequente e a reconstrução com pequenos retalhos locais
Mama contralateral:
Por vezes, é ainda necessário proceder a algum tipo de intervenção (mamoplastia redução, aumento, mastopexia, lipofilling) no sentido de obter a simetrização máxima entre as duas mamas.
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